quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A Jenny, o whisky e eu

Esse post é patrocinado pela A Tentiada é Free: não sei fazer, mas vou tentar.
Esse post também é patrocinado e originado pelo Grupo de Suporte Bloguístico embora o tema não tenha sido O escolhido hehe (o post correto saí no próximo domingo, dia 23).
E, obviamente, esse post é patrocinado por aquela banda indie rock maravilhosa que começa com The e termina com Killers
A trilogia da morte é sobre um TW: relacionamento abusivo que deu errado, muito errado. 
E é erroneamente comum, e musicalmente demais. 

PARA LER OUVINDO
  
                            parte um                                              parte dois                                                parte três

Você sabe guardar segredo? Sabe? Ok.

Ela quis conversar. 

Você está em um relacionamento e a pessoa te chama pra conversar. Pessoalmente. Você sente chegando, não sente? Aquele "não damos mais certo"? Você sente. Eu senti. Eu estava na sala quando ela entrou, a tv estava ligada quando ela entrou, eu estava bebendo whisky quando ela entrou. Porque eu senti. Eu senti o não damos mais certo chegando, e eu gosto de como o whisky me deixa solto, calmo. Gosto do gosto, da textura. Mas eu desliguei a tv, eu larguei o whisky, e eu ouvi o não damos mais certo. Eu tentei, eu sempre tentei, eu pedi mais uma chance. Ela me deu tchau, ela virou, ela foi embora. Eu sabia pra onde, é claro

Ela havia descolorido parte do cabelo há alguns meses. Eu odiei aquilo. Eu odeio aquilo. Uma coisa barata que nada tinha a ver com a Jenny. A minha Jenny. Depois que ela começou a andar com aquelas pessoas ela nunca mais fora a mesma. Eu odiava eles. Eu odeio eles. Odeio o jeito como eles faziam com que ela sorrisse. Ela não percebia que eles eram ruins, que eles eram podres, e que eu, eu fazia ela sorrir. Não mais, não com frequência, mas eu já fiz um dia. Acho que de certa forma os sorrisos dela serão sempre meus agora.

Então eu fui. Tinha uma fogueira acesa quando cheguei lá. Confesso pra você, amigo, que nunca entendi o tanto que essas pessoas ordinárias gostam de se reunir para beber cerveja barata, perto de um rio, com a porcaria de uma fogueira acesa. Deve dar um senso de vida pra vidinha miserável deles. Eu fui. Como um clichê de filme, eu fui. Ela estava lá. Com a porra de uma saia curta, conversando com eles. Com ele. Ele cochichava alguma porcaria no ouvido dela que fazia com que ela sorrisse. Eu odiei cada segundo daquele sorriso. Eu odiei que os dedos dela brincavam com os dedos dele. Eu odiei que ele entrelaçou os dedos nos dedos dela e odiei ainda mais o fato de que ela correspondeu. Vagabunda

Ele me viu, só ele me viu. E ela. Ela me olhou com aquele olhar Jennifer de eu-já-te-saquei. Ela disse que sabia o que eu estava fazendo lá. Ela não sabia

Eu pedi pra conversar, eu implorei pra conversar, e o outro quis dar uma de bom. O que ela queria com ele, afinal de contas? Eles nem gostavam das mesmas coisas. Por certo ele nunca havia lido nada na vida. Duvido muito que algum dia ele iria comprar os discos favoritos dela. Era eu que entendia ela. Eu. 

Mas ela aceitou. Haviam muitas árvores naquele clichê de lugar. Ela usava um batom de textura molhada demais, e havia tentado encaracolar os cabelos que estavam horríveis por causa da umidade. E eu odiava aquele cabelo descolorido. Mas ela aceitou. E eu pedi mais uma chance, mais uma chance, mais uma chance. Eu nunca mais vou ser feliz sem você. Eu te amo, Jenny. Jennifer, eu te amo. Jennifer, por favor. Jennifer, nós somos tão bons juntos. Eu abraçava ela. Por Deus, eu estava chorando. Ela não sabia o que estava fazendo, ela nunca terminaria comigo caso soubesse. 

Então ela começou a pedir para eu soltar ela. Eu não queria, eu não podia, eu não iria. O olhar dela era culpado. Poderia ser medo, mas era culpa. Eu sabia que era culpa, porque eu entendia a Jenny. Ela começou a dizer que me amava, mas não podia ficar ali. Não podia mais ficar comigo. Ela tinha que voltar para a festa. Eu só abracei ela. Forte. Ela chorou, tentou se desvencilhar.

Mas amigo, aqui eu preciso fazer uma pausa, porque é tão difícil se desvencilhar de um abraço de quem se ama. Eu não podia deixar ela ir... Então eu não deixei.

Ela não conseguiu gritar. Era vez dos meus dedos entrelaçarem o pescoço fino e lindo de Jenny. Minha Jenny. 


Fui embora. Acelerei o carro o máximo que pude. Estava noite, eu estava bêbado. Cheguei em casa, deitei, dormi. Sete horas depois minha mãe me põe pra acordar. Desesperada. Chorando. Porque haviam achado um corpo no rio. Nossa cidadezinha de nada estava sendo sobrevoada por helicópteros de emissoras nacionais de televisão, porque haviam achado um corpo no rio. O corpo de Jenny.

Eu sei, amigo, que você me entende, porque eu também vejo você. Eu entendo você. Eu leio você por inteiro. 

Quando cheguei na delegacia ele estava saindo de lá. Aquele bosta. Ele sabia.

Aquela polícia de merda me manteve lá dentro por nove horas. Me deram barras de cereal pra comer. Barras de cereal que eu não daria nem para um cachorro de rua. Mas eu sabia meus direitos. Eu sei, amigo, que eu nada tenho a ver com Direito, mas eis eu lá, por nove horas, sabendo todos os meus direitos. 

Ela era só minha amiga, policial.

E ela era, não era? Ela nunca quis me apresentar para seus novos amigos, para a sua família. Eu enxugava as lágrimas dela, eu comprava livros, discos, roupas para ela. Eu e a minha insônia passávamos noites observando-a dormir. A minha Jenny. Mas éramos amigos. Desgraçada.

Eu não aguento mais isso! Eu já te falei! Isso é a verdade! Me deixem ir. Eu nunca faria isso, a Jennifer era minha amiga!

Claro, eu chorei. Eles gostam de lágrimas. Mulheres quando choram são dramáticas e caricatas. Homem não chora por pouca coisa. Sorte a minha ser homem. Eu repeti meu discurso até eles cansarem e eventualmente, eles me deixaram ir. 


Isso foi no último final de semana. Por certo eles vão conectar os pontos em alguma hora. Mas não agora. Não ainda. E o que realmente importa é que ela pra sempre será minha, só minha, porque ela jamais será de outro alguém. 

Eu amava tanto, tanto, tanto a minha Jenny.

Peço desculpas por te alugar, e agradeço, de verdade, por me entender, amigo. Nós sempre temos alguém por aí para nos entender, não temos? E de certa forma procuramos por isso porque isso nos dá um senso de validade muito bom, muito reconfortante, não é mesmo? Então obrigado por me ouvir. Por compreender. Mas ei, não vá ainda, antes de ir, conte-me: qual é a sua história?


BEDA (blog everyday in august) #20

6 comentários

  1. Ok, estou me sentindo oficialmente tapada e uma péssima fã agora. Nunca tinha ouvido falar de trilogia da morte? Nunca tinha ouvido falar de trilogia da morte. Já tinha reparado na ~coincidência~ de duas músicas falarem sobre Jennifer, mas sei lá, nunca parei pra pensar sobre isso. Que coisa. Minha vida teria sido muito melhor se eu soubesse disso, eu adoro demais essas brincadeiras que as bandas fazem com a gente. ENFIM.

    Adorei o texto! Amo histórias com narradores não-confiáveis e consegui demais enxergar esse cara louco, que jura que fez o melhor pra ela. Pobre Jennifer. Obviamente lembrei do "she's dead, wrapped in plastic" quando você falou do corpo porque nunca vou superar Laura Palmer, hahaha

    beijo!

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  2. MY GAWD, alguém me abane! ♥

    Que perfeição, Ana! Dá pra ver a história inteirinha das músicas no seu texto, oh my gawd. Agora fiquei até com vergonha do meu textinho mequetrefe, HAHA. E o pior - ou não, acho que isso foi o melhor - foi imaginar a história direitinho, tal qual imagino toda vez que ouço a trilogia. E, claro, Brandon tem que ser o maluco, se não, não tem graça.

    =**

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  3. Eu, que nem conhecia as músicas, fiquei totalmente presa a esse texto de tão bom que ele está! Eu consigo imaginar o cenário, a história e a Jennifer rs. E a história me parece tão próxima de tantas realidades por aí que me dá até um negócio que nem sei dizer.

    (vergonha do meu texto? muita? rs)
    Beijo!

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  4. Ana, seu texto ficou assim, breathtaking. Está muito bem escrito, e não tenho como dizer que não amei (apesar de ter achado o tema um pouquinho perturbador, mas né, faz parte). Super te incentivo a repetir a dose em futuros posts. Inclusive, sabendo que terá um no domingo - yay! - esperarei ansiosamente. Muito bacana essa ideia do grupo!

    Eu gostei da ideia da trilogia da morte, mas sou fã de The Killers. Até tentei ouvir uma vez, mas acho que não estava no mood. Eu gosto da carreira solo do Brandon Flowers (serve?) e tenho um vício eterno em Still Want You, por culpa da minha amiga.

    Beijinhos! :*

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  5. Ana, tô sem ar. Meu Deus.
    Não conhecia as músicas - sou uma péssima musical - e li sem conhecer e ouvir mesmo porque tô sem fone. hhiihihi

    Mas eu consegui sentir adrenalina da narrativa, pena do cara, medo pela Jenny.
    E soltei um putamerda silencioso quando ele disse dos dedos dele no pescoço dela e fiquei sem querer acreditar. :/

    Adorei demais, demais.
    Se vou dormir sem sonhar com isso? Claro que não vamos.

    Beijos :*

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  6. WOW? Também nunca tinha ouvido falar da trilogia da Morte, mas já gostei da primeira música! Vai ter mais? Diz que vai ter mais! hahaha o meu só sai amanhã mas o seu ficou mais legal #mimimi

    beijo! <3

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Maira Gall