quinta-feira, 24 de março de 2016

Sincericídios super-heróicos y otras cositas más

Às vezes me dou por conta que sou meio walking contradition. É uma frase pedante, mas é verdade. Percebo isso quando meu discurso é um e minhas atitudes destoam um pouco dele. É como dar um tapa com uma mão e assoprar logo em seguida.

Digo isso sem muito pesar porque não é uma questão de vida ou morte, e sim porque constantemente levanto a plaquinha do não aguento mais filmes, reboots e spin-offs de super-heróis, e vez que outra (lê-se: com bastante frequência) acabo dando ibope pro seguimento.

Sou uma pessoa que tem Marvel's Daredevil no top 5 de séries atuais, e coloca uma confiança sem tamanho nessa aventura da Marvel + Netflix. É bem comum que eu esteja em uma estreia, pré-estreia, pagando dinheiros, geralmente não tão bem investidos, em algum filme grandão de super-herói.

Não sei se continuo fazendo essas coisas porque gosto, porque acostumei ou porque vou na fé que vai ser algo melhor. Talvez um pouco dos três. Eu curtia muito mais a jornada lá no começo, mas coisas acontecem e hoje em dia não é bem assim. Estamos liberados a não aguentar mais um negócio, apesar de gostar da ideia dele, não é mesmo?

Na última quarta-feira, talvez impulsionada pelo FOMO e não querer ficar de fora, aceitei acompanhar meus amigos na pré-estreia de Batman v Superman: Dawn of Justice, e já de cara aviso que detestei. Eu nem queria assistir o filme, então a situação toda era um cê nem devia tá aqui, linda. Mas eu tava e, sem querer fazer a Glória, opinarei.

Deveras relevante.
Quando o trailer saiu apostei algumas fichinhas e cookies de que ele seria péssimo e não só acertei (infelizmente), como percebi que foi mais péssimo do que eu esperava. Diálogos forçados, atuações ruins, personagens sem desenvolvimento, plots desnecessários que tornaram o filme uma farofa sem tamanho, lutas maçantes e sem sentido (eu diria que é um parâmetro bem ruim piscar de tédio e sono durante lutas, em um cinema), e 2h30 de filme que mais pareciam 17h –dessas quais só 20 minutos prestaram. Coloquei muita fé que Wonder Woman salvaria o filme e, embora tenha sido introduzida com 201 tipos de diferentes de clichêzões e carões, foi a única coisa, pra mim, remotamente interessante. Ah, é, talvez eu dê dois pontinhos pra trilha sonora, mas é impossível esperar menos de Hans Zimmer. No fim do dia Batman e Superman foram dois bebês com mommy issues.

Além do óbvio bode com o filme, peguei bode também da equação. A real é que a fórmula desses filmes são sim a mesma: são super-heróis lutando entre si ou contra um vilão, mais hora menos hora criando desgosto perante as autoridades, e sofrendo algum tipo de redenção em um determinado ponto da história (no caso de Dawn of Justice, algo falso que ninguém comprou). E tá ok. Não tem problema nisso. São super-heróis, no final das contas. A questão é que a gente pode ter uma mesma fórmula, mas usar valores diferentes pra ter um produto diferente, não pode? Tipo futebol, que às vezes é um jogo chato que ficou no 0x0 e às vezes é algo incompreensível e louco feito um 7x1. Mesma fórmula, resultados e impressões diferentes.

E assim: eu, você e todo mundo precisamos concordar que ninguém aguenta mais esse mais do mesmo, um chove não molha com histórias parecidas e efeitos especiais que saíram da mesma fornada. Não sei se eu era muito nova pra lembrar ou se a coisa realmente agravou nesses últimos anos, mas Hollywood encontrou um nicho que beira ser uma mina de ouro, e por assim o ser, continua insistindo e sugando e focando nisso de uma maneira que já saturou. É uma tentativa de raspar fora até o último resquício dourado da parede, sem perceber que a estrutura vem há tempos caindo por terra.


No fundo do coração, acho que já passou da hora das grandes produtoras darem um foco em especial pras super-heroínas desses universos. Entendo que por questões legais e capitalistas todos fingem que é ok ter dois personagens iguais, sendo interpretados por dois atores diferentes, em duas franquias diferentes, ou que é ok usar um ator novo pra contar aquela história que todo mundo já tá careca de saber porque a cada três anos ela é contada de forma diferente, em um reboot novo, com um cast novo. Mas não entendo essa malemolência (pa dum tss) em abrir o leque, expandir os horizontes, e arriscar um pouco mais.

Um dos amigos que estava comigo na pré-estreia disse que a minha opinião não vale muito porque eu sou eu – no caso, feminista escancarada que sempre vai levantar esse debate. Aparentemente meus óculos feministas me fazem enxergar as coisas de outra forma (graças a Deus), mas independente disso, é assim que muita gente que consome dessa indústria se sente – vide os requisitos ávidos por filmes de Wonder Woman, Black Widow ou Captain Marvel, e o clamor geral e ótima aceitação que tiveram séries como Jessica Jones, que caiu longe do óbvio e entregou uma série de nível altíssimo enquanto tratava de um vilão muito real: um abusador; ou Supergirl, que foi a série de estreia com o maior rating na última fall season e mantém um nível que varia de 6 a 12 milhões de viewers por semana, deixando os companheiros Arrow, The Flash ou até mesmo Gotham pra trás.

Mas quando entramos nesse viés, usando ou não o óculos do feminismo, caímos em dois buracos inevitáveis: o da falta de protagonistas mulheres no cinema e na TV, e o das criaturas impossíveis, os fanboys.


E ninguém tá dizendo que não existem personagens femininas marcantes, relevantes, que carregam séries inteiras nas costas e entregam papéis memoráveis (nomearemos os bois e bateremos palmas pro universo Shondaland), a questão é que ainda é muito pouco. É comprovadamente pouco.

Em 2013 a New York Film Academy publicou, com estatísticas e linhas do tempo, um estudo sobre a desigualdade de gênero na indústria cinematográfica. O negócio é real e palpável, e fica ainda mais duro quando evidenciada a questão racial na jogada. Isso tudo, por óbvio, reflete diretamente naquilo que estreia semanalmente nos cinemas do mundo todo. Não são só poucas mulheres atuando e produzindo, são também pouquíssimos filmes sobre mulheres – ou super mulheres.

Eis que, no buraco sem fim ao lado estão os fanboys de todas as idades. Eles são um tipo esquisito que pensa ter legitimidade em se achar superior às fangirls e que faz, de alguma maneira, que as risadas e discussões acaloradas de fãs mulheres valham menos que as feitas pelos garotos da casa ao lado.

Essa estrutura vem de longe. É um passe livre quase mundialmente distribuído poder julgar meninas e adolescentes por amarem boybands, young adults ou filmes água-com-açúcar, porque isso são coisas de garotas e por serem coisas de garotas obviamente elas valem menos. Nele vem grudado um outro ticket que reforça ainda mais a cabeça fraca dos que vivem no mencionado buraco: o de boys will be boys, que implica achar super natural e saudável quando dois garotos caem rolando na grama discutindo futebol porque meu time melhor que o teu e Capitão América melhor que Iron Man (não é, jamais será). 

She can simply like her coffee from Starbucks and suddenly she’s vapid and thinks herself poetic. She’ll want to play video games but be called a fake nerd, particularly if she poses in any remotely flirtatious way because for some reason despite the entire community playing games with poorly dressed women they still hate it when a real girl wears less clothing, she will be seen as trespassing in a specifically male space - but when she falls in love with a female-based television show for children, she’ll watch as men step on themselves to sexualize it.
Teenage girls aren't the downfall of society, society is the downfall of teenage girls

De alguma maneira, a fã mulher tem que provar que é fã, e sabe, e sabe de verdade, mas no fim do dia ainda vai aparecer alguém dizendo que ela não sabe de nada – mas se ela fosse um ele, a opinião dela seria respeitada, levada em consideração, ou sofreria menos pressão pra quebrar. Não é uma falácia, é uma constante que nós, nesse nosso barco, temos que nos fazer ouvir, enquanto a eles lá fora são dados todos os ouvidos.

Aqui nesse papo, não importa que ambos Maria e João só consumam os universos cinematográficos e televisivos de diversas franquias. É com frequência que vai brotar alguém, ou melhor, algum, batendo na mesa com as duas HQs que leu na vida, querendo derrubar toda a opinião que a moça deu, mas deixando intacta a opinião do colega ou debatendo e trocando opiniões de forma sensata (embora que: fanboys sensatos, um mito).

É um abismo porque quando eu chego batendo na mesa com os meus livros, os textos lidos, e toda uma carga de série nas costas, fazendo com o colega o mesmo que ele fez comigo, defendendo uma personagem jovem feminina de um universo fantástico ou uma esposa casada com um sociopata, minha opinião não vale nada porque a moça é uma personagem jovem feminina de um universo fantástico ou uma esposa casada com um sociopata (e eu sou só uma não-assim-tão-jovem-porém-feminina defendendo elas).

PAUSA. Tenho um super respeito por quem consome as histórias em outras plataformas. Gostaria muito de assim o fazer, mas eu mal consigo manejar meu tempo com o que faço e o que já acompanho, então deixo isso pra quem realmente gosta. Aceitei a derrota de que às vezes não se pode fazer tudo, ler tudo, ouvir tudo e assistir tudo. No entanto, não vou te entregar minha carteirinha de fã só porque eu assisto coisas em contraponto a ler coisas. E ninguém vai roubar tua carteirinha de fã se você quiser fazer o mesmo. 2016, gente. Tá liberado achar uma adaptação boa ou achar uma bosta (vide Game of Thrones que eita adaptação bem bosta mddc) e fazer críticas quanto a isso. Não tá liberado cagar na cabeça de quem julga uma coisa desconexa só porque você julga ela em conjunto e comparado com x, y ou z. DESPAUSA.

Essa vibe inteira é muito louca, e se eu pudesse registrar algo seria que não vale a pena bater boca com fanboys – e que eu deveria ouvir meus próprios conselhos. Existe uma ciência que prova que eles jamais admitirão que estão errados, e que a masculinidade deles quebrará em duzentos e cinco pedaços caso uma mulher saiba mais que eles sobre super-heróis, vídeo games, futebol, ou qualquer outra coisa que eles pensam saberem mais única e somente porque são homens.


Seguirei assistindo a filmes de super-heróis (sejamos sinceros, a quem eu quero enganar?), mas com cada vez menos interesse. Espero de verdade que eles lá em cima – produtores, escritores e estúdios – tirem um pouco a mão do bolso e coloquem ela na cabeça, e percebam que as pessoas vão continuar pagando pra assistir filmes que saiam fora da caixa. Que personagens mulheres conseguem sim carregar séries e filmes nas costas, mas que é impossível que isso aconteça se a insistência chata de que não, não conseguem, continuar. Façam colecionáveis dessas personagens, façam roupas dessas personagens – se a questão é dinheiro, tem muita gente querendo de verdade pagar por isso. Lembrem que cinquenta por cento do público que paga para ir ao cinema são mulheres. Aceitem a oportunidade de fazer diferente e depois a gente conversa se deu certo ou não. Afinal, se Batman vs. Superman é algo que foi aprovado e distribuído, caminhar por outros lados não seria tão ruim.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Burrito of sadness

Dias desses eu comi burrito pela primeira vez na vida. Foi uma experiência boa, apesar de pesada. Pensei que meu estômago e afins não iria aguentar aquela comida mexicana cheia de arroz, feijão, carne e molhos temperados, tudo junto e misturado. Mas aguentei, porque meu corpo às vezes me surpreende. Não colocar tudo pra fora, eu que sempre tive estômago sensível, foi um tipo pequeno de vitória. 

Eu tinha ido passear com uma amiga, procurar uma mala pequena pra minha viagem da semana seguinte, e deu tudo muito certo, milagrosamente. 

Mas as coisas dão certo até que elas não dão, né? 

Na quinta-feira retrasada precisei visitar o fórum da cidade, mas o mundo virou na hora, e chuviscava, e ventava, e eu, com jeans, malhas e tênis, queria me esconder atrás da minha pastinha e do meu processo enquanto esperava o ônibus de volta ao escritório. O ônibus voltou lotado, mas eu cheguei no escritório... Pra perceber que o pessoal do fórum, com quem eu nunca tive problema, me entregou o processo errado. Então eu voltei lá (de táxi, dessa vez, porque a chuva era mais forte). Chorei as pitangas pra servidora que ficou horrorizada com o que tinha acontecido. 

E sabe, mesmo que eu tenha passado frio, tá tudo bem, eu não vou ficar mal. Minha garganta arranhava um pouco, mas no momento que pisei em casa eu fui beber um café quentinho, e mais tarde tomar vitamina C e desejar, com tudo isso, que desse tudo certo amanhã, porque amanhã as coisas vão dar certo.

***

Acordei às 6h30 da manhã pra poder tomar banho e sair uma hora depois rumo a capital pegar um voo previsto pras 11h55min. Que horas o voo saiu? Depois das 15h. São Paulo foi lavada por chuvas, tudo virou um caos, nem os aeroportos sobreviveram, e um dia depois todo mundo ainda sentia os estragos causados. 

Mas sabe, tudo bem, vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo, mesmo que tenhamos perdido o primeiro shuttle gratuito de Guarulhos até Congonhas porque tinha muita gente na nossa frente. É ok esperar uma hora até o outro, e mais ok ainda levar uma hora e meia até Congonhas. Eu fingia que era irrelevante que o ônibus estivesse um iglu de tão gelado. 99% na fé que ia dar tudo certo, mas aquele 1%...

Chegando no nosso apezão (esse sim não decepcionou), o chuveiro não esquentava. Malditos chuveiros a gás. Eu não tinha nada quentinho pra usar, então rezava poder dormir uma boa noite quentinha de sono e acordar 100% no outro dia. Eu me convencia que estava tudo bem, mesmo que tenhamos pedido uma pizza que foi a pior experiência da minha vida. Alguém deveria ensinar São Paulo a fazer comida decente, porque as que comi foram de medianas a péssimas. For a pessimist, I'm pretty optimistic, já canta minha bandinha.

No outro dia eu acordei com tosse, garganta arranhando e uma afta diaba na boca. Tudo bem, vou comprar pastilha, vou melhorar, vou assistir Of Monsters and Men, e Mumford & Sons e Halsey.

Mas correr de um lado pra outro naquele estado não foi muito bom. Nem ter que usar capa de chuva como casaco porque o frio que eu sentia era tanto que eu batia queixo. Nem ter que esperar, depois, passando ainda mais frio, uma hora e meia até nossos amigos do ap aparecerem com a chave. Eu tava que era o diabo. Parecia mal humor, mas era só doença que se aproximava.

Dia seguinte eu acordei pior e comecei a tomar remédio na esperança de que fosse algo simples e logo melhorasse. Fui obrigada a comprar meia calça pra não passar frio e ela me apertava mesmo sendo a indicada pro meu tamanho. Fuck you, Forever21. Cheguei no autódromo e fizeram eu rasgar um pacote lindinho de coisas que eu havia comprado de presente na Lush. Ingênua. Então fui passar meu ingresso pela catraca, pra plmdds, deixar a zica toda pra trás. O que aconteceu? Ele não aceitava. Foi A+ ver todos meus amigos passando e eu ser mandada pra tenda dos fracassados que os ingressos marcavam NÃO ENCONTRADOS. Engoli muitas lágrimas de frustração naquele momento, minha vontade era mandar tudo e todos pra pqp e voltar pra casa.

Fui assistir Florence sentindo a cabeça pesada, o nariz escorrendo, e uma tosse que mais parecia a morte. Mas ok, depois de muito empurra empurra e chuviscos, Florencia me abençoou e grazadeusa no outro dia deu tudo certo com o shuttle (apesar da correria que me deixou sem ar) e o voo (apesar das dores impossíveis que senti durante ele).

Cheguei em casa (casa casa, a minha casa) e o peso das coisas darem tão errado bateu forte e eu fui dormir chorando. Porque sou madura, porque eu choro quando fico doente, eu choro quando sou deixada de lado, eu choro quando as coisas não saem como o esperado.

(créditos)
Me arrastei por uns dias, faltando aula e pensando em como tinha me enfiado naquela furada. Fui pro plantão porque, Dr., não guento mais (e porque minha chefe disse que eu estava horrível e mandou eu ir). Resultado? 14 dias tomando antibióticos e anti-inflamatórios, e aqui jaz a pior crise de sinusite que já tive na vida. Todo o meu rosto dói, até minha gengiva dói, minha cabeça parece um tambor cheio de eco, e olfato e paladar é algo que eu sinto saudade de ter. Me sinto drogada o tempo inteiro, não consigo me concentrar, não sei direito as coisas que falo, tudo é aéreo e eu me sinto apática.

A turbulência do que anda acontecendo no Brasil não ajudou, cancelei tantas assinaturas e bati tanta boca que não tá escrito. Hoje meu Facebook é um punhado de Grupo de vídeos fofinhos e pretendo que assim permaneça. Eu tenho algumas prioridades na vida, e não bater palma pra indignação seletiva é uma delas.

Queria ter estudado esse final de semana mas ainda estou mal, então não consegui. Espero que pro feriado eu esteja melhor pra colocar as coisas em dia e reagir um pouco pra vida.

Peço perdão pelo vacilo e a falta de posts. Peço perdão pela falta de sentindo, porque as coisas ainda giram. A gente sabe como blogs funcionam, e às vezes a gente tenta mas simplesmente não dá. 

quarta-feira, 2 de março de 2016

Perdi algo?

Ontem eu saí da aula mais cedo. É algo que faço com certa constância, esse negócio de sair da aula de quinze a vinte minutos antes do final da mesma. Eu faço isso porque gosto de chegar em casa um pouco antes e poder tomar meu iogurte de manga em paz, limpar o rosto em paz, e ter uns vinte minutos pra fazer alguma coisa antes de ir dormir. 

Ontem e antes disso, ao sair da sala, eu fiquei com a sensação de que tinha deixado um pedaço de mim, ou meu estojo, ou meu celular, ou alguma coisa super mega importante como uma epifania em sala de aula pra trás. Coisas sem relação que me colocaram em uma mesma pilha muito errada. 

Eu não deixei, é óbvio. Eu jogo tudo o que tenho dentro da minha bolsa e muito provável que eu só deixei de ouvir ao vivo algumas groselhas das quais tenho acesso nos slides postados pelos professores. 

expliquei aqui, mais ou menos, como rolam as coisas entre a vida acadêmica e eu. E nem era disso que eu queria falar. Era mais sobre essa sensação que, nos últimos tempos, mais do que nunca, anda me afligindo. Essa sensação de que estou perdendo algo. 

Literalmente perdendo algo e coisas e oportunidades.

Essa sensação de que por ir em x lugar, eu perdi a diversão de y. Que por não querer sair, eu tô perdendo a minha vida. Que por sair, eu deixei alguma coisa física e real pra trás. Eu passo o caminho todo ansiosa, pensando que deixei minha carteira lá, embora eu já tenha visto ela duas vezes dentro da minha bolsa. Passo o caminho todo pensando que alguém vai chegar desesperado procurando por mim e eu não vou estar lá. Configurando o "lá" como qualquer lugar onde eu não esteja. 

Um dia desses conversando com as gurias da Máfia alguém jogou na mesa a ideia do FOMO, uma condição psicológica que faz com que a gente se sinta por fora do que anda acontecendo, perdendo algo. O Fear of Missing Out atinge principalmente quem é viciado em mídias sociais. Talvez eu, e você, soframos um pouco ou muito com isso. Mas não é exatamente essa a sensação que eu ando experimentando. Eu acho. Uso cada vez menos o Facebook, o Instagram eu ando abrindo lá a cada morte de bispo, e o Snapchato eu não guento mais. Claro, aquela festa cheia de tinta neon que o pessoal que eu sigo nas ~redes~ foi, e eu não, parecia estar demais, porém a realidade é que minha vontade de festa caiu bastante e só a ideia de ficar acordada até Altas Horas da Madruga™ me dá sono. Espero do fundo do coração que essa vibe passe, porque eu gosto de festar. 

De qualquer maneira, o que sinto é que eu poderia estar fazendo e sendo mais, e estou sendo menos. Que poderia estar lendo dezenas de livros por ano, mas estou assistindo filmes no lugar. Ou que poderia estar estudando mais, mas prefiro dormir no lugar. Não importa o que eu escolha fazer, não importa se eu genuinamente queira estar assistindo dez episódios de comédia um atrás do outro, lá no fundo algum monstrinho aqui dentro tá zunindo no meu ouvido e dizendo "mas você poderia estar fazendo tal coisa". Quero muito mandar ele ir pra casa do caralho, mas eu caio no erro de responder "sim, sim, sim" pra esse djiabo e depois bate aquela frustração.

Talvez eu precise otimizar meu tempo ou praticar mindfulness. Talvez eu precise rever meus conceitos e focar em uma coisa de cada vez. E, sem talvez e com toda certeza, eu preciso parar com isso, preciso controlar essa sensação, esse medo, essa agonia, porque caso contrário, migos, não vai rolar. A cada novo dia é um novo prato frio de decepção que eu sou obrigada a comer unicamente porque eu me obrigo a isso. E eu não sou obrigada, eu sei que não sou obrigada, só preciso aprender a colocar isso em prática.


Obs.: no momento sentindo que perdi a oportunidade de escrever um post decente, e por isso só lamento meus companheiros e companheiras. Amo vocês, mas ultimamente tá foda produzir. 
© AAAAAA
Maira Gall