sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Feminism: loading

Deixando um pouco de lado a parte fangirl (prometi isso quando criei o blawg, né?), vou aqui despejar minha opinião pessoal sobre um assunto que deu o que falar nas redes sociais nos últimos dias/semanas: o resultado de uma pesquisa feita pelo Think Olga (especificamente, essa daqui).

Eu juro que eu tento ao máximo não me enfiar e não dar opinião sobre debates onde todo mundo tem razão na internet. Compartilho uma coisa que outra aqui e lá, distribuo likes tímidos em compartilhamentos alheios dos quais concordo e comento isso diretamente pra pessoa. Mas entrar em páginas feministas e machistas e sair batendo boca com boa parte dos exagerados e, perdão da palavra, anencéfalos que lá residem como parasitas, isso não. Não, muito obrigada. O máximo que faço é girar os olhos e comentar com a minha irmã o quanto "eu odeio gente".

O motivo de eu me manter longe? Porque tem mulher que defende machismo; tem homem e mulher marinados na misoginia ou na misandria; todo mundo tem razão; os xingamentos rolam soltos etc. Enfim, os motivos não param.

Pra quem não sabe, aqui vai uma aula direta do dicionário:
Feminismo: sm (lat femina+ismo) Movimento iniciado na Europa com o intuito de conquistar a equiparação dos direitos políticos e sociais de ambos os sexos.
Machismo: sm (macho+ismo) Atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher, sendo, pois, contrário ao feminismo.
Misandria: sf (miso1+andro+ia1) Antipatia, aversão mórbida ao sexo masculino. 
Misoginia: sf (miso1+gino+ia1) Antipatia, aversão mórbida às mulheres.
O twitter, coitado, quase entrou em combustão entre machistas, feministas e femistas da websfera.

Os piadistas, é claro, em grande maioria homens (mas sem excluir a parcela que me dá mais dor no coração de mulheres) não levaram muito a aparecer. As feministas também não levaram muito a levantar voz e tentar explicar a visão delas sobre a situação toda (repito: as feministas). Mas sem me deter muito, já me falaram que piada é uma forma de crítica. E eu concordo em parte. Por quê? O pessoal consegue ultrapassar a linha de crítica e passar à ofensa sem, em muitas vezes, pensar uma ou duas vezes sobre o que estão falando.

(créditos)
Mas quando essas bombas moralísticas estouram no mundo internético, uma raivinha dentro de mim começa a ganhar forma e crescer. Porque o que mais me irrita, e irrita de uma forma que eu tenho vontade de arrancar com garfo os olhos das pessoas (ou os meus), é o abismo de dois pesos e duas medidas que existe pra homens e mulheres e a generalização de que toda feminista é feminazi/misândrica.

E não, moços e moças, isso não é bom.

Porque quando uma mulher eu reclamo por ser chamada de linda, eu não reclamo porque eu odeio que me chamem de linda. Quem não gosta de ser chamada de linda? Eu gosto. Eu gosto quando vem de qualquer pessoa para qual eu dei abertura. O namoradinho. Ficante. Peguete. Chamem do que vocês quiserem. O que eu, e elas -- as outras mulheres, reclamamos, é de quando estamos no meio da rua e do nada vem aquele "oi, linda" com olhar maldoso seja do tio na parada de ônibus, do pedreiro na construção, do caminhoneiro, do gurizinho mais novo. Não parece grande coisa, "é exagero", vocês falam, mas não é. É como se tu tivesse sendo invadida, o teu espaço tá sendo invadido por uma pessoa que você nem conhece e não deu abertura. De uma pessoa que acha que sair por aí falando "gostosa", "te chupo toda", "delícia" é normal. É elogio. Mas não é normal.
Not feminism: Oh my God, that woman is wearing make-up and high heels! She can't be a feminist. She's just adhering to the patriarchal expectations of femininity! What a traitor to her gender.
Not feminism: I hate men! Women are so much better than men! All men are rapists and we don't need their help! Men are just there to oppress us and keep us down! Women are the superior gender.
Not feminism: You're giving up your career to have a baby? You're being dictated to by a man! That's the wrong choice! You've slept with twenty men? Wow, way to show that you have no respect for yourself.
Feminism: Women and men are equal. No-one should be discriminated against on the basis of their gender. Women have the right to decide how to live their life, how to dress, what to do with their body and who to love.
Não é normal eu querer atravessar a rua quando vejo um grupo de homens reunidos na frente de um bar, e que eu queira atravessar pra evitar a possibilidade de me sentir feito um pedaço de carne na frente de cachorro esfomeado; não é normal você ter treze anos e estar com as suas amigas em um parque e um homem qualquer começar a "bater uma" perto de vocês pra vocês verem; não é normal eu procurar minhas chaves ainda dentro do ônibus ou do carro pra não ter que ficar esperando na frente do portão por medo de que algo possa acontecer; não é normal eu ter medo de andar na rua às oito horas da manhã, ao meio dia, ou às seis da tarde não só pelo medo de ser assaltada, mas por medo de ser estuprada; não é normal um homem que é 4 vezes mais velho pedir seu e-mail para ficar enviando pornografia pra ti; não é normal você se sentir mal no próprio ambiente de trabalho porque seu colega envia mensagens te chamando de gata e dizendo que não conseguia parar de olhar pra sua bunda, e não é normal que esse colega fique bravo com você e diga que você tá exagerando e que não sabe brincar só porque você decide fechar a cara pra evitar que algo maior aconteça; não é normal você sair pra festinha e dizer "não" pra um guri e ele falar que você tá fazendo joguinho pra se sentir a tal sendo que a realidade é que você simplesmente não quer ele; não é normal que passem a mão na tua bunda, ou peguem no teu cabelo ou em qualquer outro lugar seja no ônibus ou na festa.

Assistam esse vídeo. Ele é um pouco longo mas super interessante. 
Ah, é: isso não é normal.

Me desculpe, mas não é normal. Eu não consigo enxergar normalidade nisso. E eu garanto que vocês, moços, não achariam que isso fosse exagero quando a sua melhor amiga, ou a sua filha, ou a sua mãe, ou a sua namorada estivessem passando por uma situação parecida. E acredite, todas elas já passaram ou vão passar ao menos uma vez na vida. E vocês, moças, que estão de acordo com isso e ainda conseguem fazer piada sobre isso e não se importam com isso, me digam onde compra essa dose de alegria e otimismo porque eu também quero um pouco.

E o que irrita é que ninguém percebe, ou finge que não percebe, que esse mistério patriarcal por trás da sociedade não só trás aspectos negativos pras mulheres, mas para os homens também. Que essa sociedade onde, ainda, querendo ou não, a mulher é criada pra cuidar da casa, e o homem pra manter a ca$a, não é saudável. Onde a mulher tem que ficar parada e esperar que homem, e só homem, tome iniciativa não é legal. E ai meu Deus se ela tomar iniciativa?! Puta. Se ela gostar de sexo tanto quanto o homem? Puta. Se ela disser não pra um homem? Puta. E mal comida. E a culpa é única e exclusiva dela porque ela não quis ele; ela deve tá fazendo alguma coisa errada. Se não quer um amigo? Vadia que colocou o amigo na friendzone. Como se ser legal com alguém desse passe-livre pra algo mais.

E no fim do dia, ninguém ouve falar de mulher que tá na friendzone. E no fim do dia, toda feminista tá exagerando; e toda feminista não se depila (que tabu com pelos é esse aí? Qual é a realidade alternativa que vocês vivem onde a mulher não tem pelos do pescoço pra baixo? Porno não é realidade alternativa, gente, então menos); e no fim do dia se a mulher é estuprada é porque ela tava pedindo, porque a roupa dela tava curta, porque o ambiente pedia que isso acontecesse (gente, não. Mulheres com burca são estupradas todos os dias. Ao invés de culpar a vítima, culpem o estuprador porque não terem o mínimo de bom senso) e a lista só vai.

Com toda a certeza ainda há muito (quase tudo, eu arriscaria a afirmar) o que mudar na cabeça das pessoas, inclusive na minha porque vez que outra eu ainda dou risada de piada sexista (desculpa, Taylor Swift). Mas especialmente porque "piadas" misóginas ganham free-pass ("Tu não tem uma louça pra lavar?" Tipo, sério? Inventem algo novo porque essa piada perdeu a graça faz tempo), e qualquer piada sexista que diminua os homens ou faça alusão à violência contra os homens é vista como um desacato à essa grande entidade de sabedoria (dois pesos e duas medidas, as duas igualmente péssimas, diga-se de passagem). Porque fazer alusão a violência contra a mulher em música, pode. Chamar mulher de vadia, cachorra, objeto sexual, também pode. Agora fazer alusão a uma castração? Chama R'hllor pra queimar essas vadias (novamente!) que pregam a igualdade de direitos e fazem piadas sobre castração!!!!!!!!!!

E sabe como verificar isso? Deixa eu mostrar algo pra vocês: Vocês conhecem a música Blurred Lines do Robin Thicke? A música é um chiclete que só vendo e vocês provavelmente já ouviram. Mas prestaram atenção na letra ou no clipe? Então. Virou quase regra desprezar essa coisa, que, querendo ou não, não difere de diversas músicas que tocam o tempo todo por todo lugar. Mas o engraçado é que uma paródia, que faz alusão à violência contra os homens em uma frase foi tirada do ar pelo YouTube por violar as regras do mesmo ou qualquer coisa nesse sentido. Com sorte diversos usuários fizeram o upload do vídeo que agora é fácil de encontrar:


Querem mais? Então prestem atenção nos vídeo games e grande maioria de filmes Hollywoodianos ou em entrevistas nesse mundo da oitava arte. Elas, super confortáveis em roupas apertadas e decotadas, enquanto eles se sentem bem usando qualquer coisa. Não se deixe enganar, eu não tenho problema algum com decotes ou roupas que valorizem o corpo das mulheres (quem não curte peitos, afinal?), o problema é quando essa valorização extrapola e tu sabe que esses produtores/diretores estão extrapolando. Inclusive, duas deusas desse mundinho, a Scarlett Johansson e a Anne Hathaway, estão constantemente reclamando da diferença de tratamento que ganham, por exemplo, em entrevistas em painéis ou red carpet. Querem ainda mais?! Por que o mundo entrou em combustão com a apresentação da Miley Cyrus no VMA, ou qualquer outra que uma mulher esteja "não se dando o respeito", enquanto o tempo inteiro a gente vê clipes onde, oh-meu-Deus, o homem não se dá o respeito?! Ah, é... Isso não existe.

Mas o ponto é, e é onde eu queria chegar: uma mulher não deveria se sentir mal por fazer algo que não é "coisa de mulher"; não deveria andar na rua olhando vez que outra pra trás por puro medo; não deveria receber tratamento diferenciado na hora de concorrer a uma vaga de emprego; não deveria se sentir pressionada a fazer algo porque "a sociedade impõe".


E na real, eu já atravessei essa linha e por isso tento não pensar muito. Com o perdão da palavra, foda-se o que a sociedade impõe (e impõe pra todo mundo). Se eu quiser ir pra academia ou comer muito ou usar salto ou usar roupa curta ou usar roupa comprida ou cortar o cabelo ou pegar todo mundo ou não pegar ninguém: isso tá totalmente nas minhas mãos. A saúde é minha, a vaidade é minha, meus gostos são meus. E o que está nas minhas mãos, está nas suas também. E faça o que você quiser e depois lide com as consequências você mesmo, porque às vezes não é a sociedade que obriga você a ser um completo babaca.

Então, pra não deixar o post mais longo do que ele já está, vou deixar como considerações finais alguns textos (ótimos) e quase todos em Inglês (sorry) e que valem a pena a leitura: Como se sente uma mulher (o clássico!), I'm Sorry, But I Don't Think You Even Freakin Know What Feminism Is (em forma de slides e simplesmente genial), I am Incredibly Sick of People Right Now, Judgments by Rosea Posey (uma foto super instigadora) e Lamenting The Friendzone or: The Nice Guy Approach to Perpetuating Sexist Bullshit.

**Update: a Taytay é demais. Não fale mal da Taytay perto de mim. God Bless 1989.

3 comentários

  1. Esse texto é incrível! Achei o blog super por acaso e tô adorando. Concordo cem por cento com o que voce disse. O que me deixa mais triste do que tudo é quando outra mulher se orgulha em dizer que não é feminista, porque é ai que a gente percebe o quanto o termo foi distorcido.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada!!! Tu não sabe o sorrisão que eu coloquei no rosto agora. Tu deve ter sido uma das únicas pessoas, além de mim mesma, que deve ter se prestado a ler esse texto enorme.

      E também dói no meu coraçãozinho essa aversão que algumas mulheres têm pelo feminismo. É totalmente desnecessário e pura ignorância, no meu entendimento. ;_; Super triste.

      Fico feliz que tu tenha curtido. Mesmo, mesmo. :33

      Excluir
  2. Amei o texto, verdade nua e crua! Ser feminina não significa ser anti-feminista! Toda mulher deveria ter conhecimento maior ao feminismo, começando na escola, formando mulheres e homens diferentes, sociedade seria melhor.

    ResponderExcluir

© AAAAAA
Maira Gall